sábado, 25 de outubro de 2008

É bom poder conversar de novo...

Independente do resultado de amanhã (que está me deixando nervosíssima, aliás, e que quero muito que dê Gabeira!), acho que muitas coisas boas surgiram nessa campanha.
E uma delas, foi a possibilidade de voltar a falar de política. No meu caso, que já fui petista, e hoje não sou mais, ainda que não tenha também me tornado anti-Lula, ou anti- PT, digo que essa possibilidade me reaproximou, tanto de pessoas da minha família, identificadas com o PSDB, quanto de amigos e conhecidos petistas. Falo em reaproximação no sentido da volta da conversa sobre política.
Acho que vivíamos num clima de rivalidade meio estilo Flamengo X Vasco (do qual, aliás, me distancio completamente e que acho que devemos ajudar a desfazer; inclusive: viva meus amigos queridos vascaínos!), em que um lado se via inviabilizado de dialogar com o outro. E cada lado se via inviabilizado de fazer a própria autocrítica.
E se há uma coisa em que eu acredito na vida é no diálogo (que o digam meu marido e meus filhos, que às vezes ficam um pouco cheios disso...). E se há uma coisa na qual eu não acredito é nas verdades fechadas. Que costumam permear os dois lados; tanto do anti-lulismo e anti-petismo, quanto do anti-psdebismo.
Acho que não dá pra pensar em projeto de futuro do país se esses lados não conversarem. Será que estaremos sempre fadados, qualquer um dos lados, a estabelecer alianças com PMDB ou DEM, ou Partido da Universal, que nem me lembro a sigla (PR?)? Será que há possibilidade de renovação da vida política no país se nós – ex-petistas e petistas – não tivermos a coragem de fazer a crítica sobre tudo que tem envolvido a situação do PT no poder? Se não tivermos a coragem de reafirmamos crenças que defendíamos há 20 anos atrás e que se perderam? Se não tivermos a coragem de refletir sobre toda a crise vivida pela vida política e pelos partidos em especial, envolvendo, por exemplo, a questão da representatividade? Se não tivermos coragem de refletir sobre todo o viés personalista que caracteriza o lulismo, tão em alta, aferido pelos índices de popularidade, enquanto o petismo não? Falo dessas perguntas, porque são aquelas que eu me faço, já que me situo desse lado. Mas será que o lado de lá também não tem perguntas a se fazer? Claro que sim.
Então, acho que a chegada do Gabeira à prefeitura pode ajudar a produzir esse efeito de diálogo e de desarmamento de espíritos. E de abertura para a crítica e para a construção de formas de fazer política mais arejadas e renovadas (ainda que saibamos o quanto que essa palavra “renovação”, ao lado de outras como “novo”, “mudança” sejam carregadas de algo tão velho, já que têm sido historicamente muito usadas em vão...), com maior presença de setores mais ampliados da sociedade que se viam tão distanciados da política e da esperança. Posso ser ingênua. Mas prefiro sentir isso de novo, do que não sentir nada, do que sentir indiferença.
Só mais uma coisa: tudo que aprendi sobre espírito público, coisa que me move, ou que eu procuro fazer com que me mova na minha vida profissional, aprendi com alguém que por muito tempo esteve do outro lado e que bom que está de novo perto de mim: meu pai.
Ana

4 comentários:

Bia Prado disse...

Ana, como você já fui petista e não sou mais. Também, como você, não sou anti-petista e muito menos anti-Lula. Ao contrário! Faço parte dos 80% que aprovam o presidente e não considero isso Lulismo. Considero isso olhar de frente para a realidade, sem paixões, ao ver o povo, inegavelmente, mais feliz e comendo melhor. Afinal, é isso que me impulsiona na hora do voto, na hora das discussões: diminuir as enormes diferenças sociais, que, aliás, governo nenhum havia conseguido até então.
Como já disse inúmeras vezes, sempre votei no Gabeira e sempre considerei sua postura e o que sempre defendeu essencial na vida política do nosso país.
Mas tenho sérias dúvidas se ele seria, ou será um bom prefeito. Além de ser extremamente cética em relação aos apoios.
Mas ontem no debate ele decepcionou muito.
Agora, estar discutindo política é sempre muito bom e muito salutar para todos nós. Eu só não me identifico totalmente com seu texto, porque não havia aberto mão disso em nenhum momento.
Quando defendemos a convivência e o respeito às diferenças, precisamos contemplar as diferenças políticas. Esse tem que ser o norte. Sempre.
Quando escolhemos um time, sabemos que estaremos com ele na vitória e na derrota. E sabemos que faz parte disso "sacanear" a galera que torce pelo outro time. Ainda bem que meu marido é Flamengo, mas não deixaria de ser casada com ele se fosse fluminense, por exemplo...
Com política tem que ser assim também. Discutimos, discutimos e discutimos com os amigos, com os parentes que pensam diferente, mas estamos todos juntos em qualquer momento.
Para mim, a grande diferença entre política e futebol é que na política podemos mudar de lado, de opinião, de partido, ir, voltar... mas não perder de vista nem nossos valores nem a ternura. Jamais! :)
Seu texto está lindo. Seu pai é realmente um grande exemplo. E viva as discussões! Antes, durante e depois das campanhas!
Muitos beijos, Bia

Anônimo disse...

Ana,
Que texto visceral.
Para falar de política vc passa por tanta coisa sua mostrando-se tanto!
Bia diz o tempo todo (e com muita ênfase) que vc é das pessoas mais generosas que ela conhece.
Seu texto pareceu-me exatamente assim, generoso no relato, nas emoções, nas dúvidas, no humano.
Ganhamos um grande presente seu, por poder compartilhar dos seus sentimentos.
A política que voce quer expor, é a que nos remete à esperança de um mundo melhor.
E no final voce ainda fala do exemplo do seu pai.
Aguardaremos um outro texto seu sobre esse final.
Os leitores fiéis do BLOGDODOM8 aguardam impacientes.

Anônimo disse...

Moças...
Belos textos. Também estou feliz em poder conversar de novo sobre política. Amanhã vai ser voto a voto. Pesquisas recentes indicam empate técnico com o nosso adversário na frente.
Mas vamos lá !!

Ricardo

Anônimo disse...

Amigos queridos,
Obrigada pela leitura generosa.
É bom poder conversar...