sábado, 20 de junho de 2009

Ok, Frank, toque aí, aquela velha canção...

Gosto muito de música. Gosto de murmurar uma melodia enquanto faço coisas simples do cotidiano. Há sete dias uma canção tomou a parada de sucessos dos meus murmúrios. Gosto dela mas não é nenhuma das minhas preferidas. A explicação para esse zumbido musical na minha cabeça era o cantor: Frank Sinatra. Meu pai não era muito ligado em música. Não o via cantarolando, nem escutando nada mas sei que admirava o velho Frank...

Hoje nos despedimos mais uma vez do velho coronel. Por uma hora, num mesmo templo, estavam os velhos companheiros de turma da Aeronáutica, os filhos de alguns pilotos que voaram para sempre, os meus amigos que conviveram com ele, os meus amigos que não tiveram a sorte de conhecê-lo, a gerente de banco de mais de 20 anos da conta do "seu" Celio, a fisioterapêuta que o ajudou muito nos últimos anos, os amigos da família, a minha família, a preciosa família que eu ganhei quando casei com a Regina, o neto que era motivo de orgulho e felicidade dele, a neta que ele ganhou e adorava, a nora que meu pai admirava e não cansava de elogiar e a minha mãe, que viveu com ele uma grande história de amor, que não teve final feliz mas que foi profunda, forte e companheira enquanto durou...
E antes da missa começar, eu estava ali murmurando mais uma vez, bem baixinho, "Fly me to the moon"... Como a maior paixão do meu pai era voar, me permiti, naquele instante, imaginar que ele estava seguindo a sua rota, cantarolando que "gostaria de ser levado para a lua, brincando entre as estrelas" que iluminariam o céu de paz, amizade, companheirismo, alegria e amor...

Eu nem olhei pra cima mas sentindo o coração daquelas pessoas ao meu lado, tenho certeza de que na noite de hoje o céu estava brilhando.

Ricardo

domingo, 14 de junho de 2009

O último voo

Preparou tudo cuidadosamente.
Não era o plano de voo mais importante da vida
mas era o definitivo.
Era preciso checar cada detalhe.
Conferir os mapas, traçar a rota,
E o principal:
Indicar os próximos passos para quem ia ficar.
Como um comandante centralizador, fez tudo sozinho.
Poderia ter dividido.
Quem sabe com um co-piloto ?
Mas talvez, pelos descaminhos do dia a dia , pelas teimosias do coração,
tenham faltado co-pilotos ao seu lado e se acostumou a tomar decisões, só e pra si...
Talvez tenha sido assim quando voava pelo Correio Aéreo e pousava em lugares
perigosos, pistas de terra no meio da floresta, nas missões de salvamento e ajuda de que tanto se orgulhava.
Não dá pra saber agora.
O plano de voo foi feito para ser cumprido.
E ele decolou...
Com certeza, não imaginava tanta turbulência.
O velho avião, já estava marcado pelos ventos do tempo,
e ele sabia que não ia ser fácil...
Mas por que tanta nuvem, tantos raios, tanto mau tempo naquela viagem ?
Quem tem a resposta ?
Aos poucos, o radio não recebia mais mensagens
por mais que a torre tentasse falar,
tentasse orientar,
tentasse confortar...
Não havia resposta.
O silêncio das alturas começou a se estabelecer...
Mas aquele ponto de luz ainda brilhava no radar.
Todos sabiam que o motor era guerreiro,
não falhava...
Mesmo que as asas trepidassem,
mesmo que o leme não atendesse mais aos comandos...
o motor teimava em roncar.
Foi sempre um motor forte acostumado a tempestades
que soube conduzir sonhos,
rasgar caminhos,
levar a vida
e transportar vidas pelo céu azul...
Naquele momento, o plano de voo não estava saindo como o previsto.
Mas um bom comandante está sempre preparado
para as interferências do destino.
E ele seguiu...
Aos poucos,
a luz foi sumindo no radar,
na esperança dos olhos de quem estava com os pés na terra
e carregava uma história de convívio, amizade, respeito, carinho e amor no coração.
De repente, a luz se apagou...
O velho avião riscara os limites da existência...
Mas os planos do último voo ficaram
e foram seguidos,
marcados pela saudade, pelas dúvidas de decisões que não foram tomadas,
pelas últimas palavras que não foram faladas......
A história terminaria aqui mas um radio-amador,
numa ilha imaginária entre o Atlântico e o Pacífico,
captou mensagens que pareciam perdidas nas nuvens.
Uma delas falava do orgulho de um velho comandante pelas conquistas da vida...
Outra dizia a respeito a uma das ultimas visões que ele teve da pista:
o comandante não imaginava
que ela estaria tão cheia de amigos, sentimentos e carinho em volta do seu filho...
E partiu mais feliz...

E por último, o radio-amador captou diálogos vindo de algum ponto do paraíso
entre os rádios dos aviões dos coronéis Gomes, Braga e Carvalho.
Felizes, davam boas-vindas ao mais novo membro da esquadrilha do céu:
o coronel Celio Pereira.

Beijo, pai.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

ENQUANTO AINDA TENHO TEMPO

Minha querida irmã,
Pela primeira vez tomei a iniciativa de escrever para você.
Engraçado, porque já se passaram muitos anos, já passei dos cinqüenta, você também, e praticamente nada falamos a respeito um do outro.
Queria lhe falar que senti muito sua falta.
De você e de quem você seria para mim.
De nossas brigas, de nossas implicâncias, de nossos temores, de nossos segredos.
Sem você, não aprendi a dividir a atenção da família.
Sem você não aprendi a dividir a garrafa de 200 ml de Caçula nem a de 185 ml de Coca Cola.
Sem você, fui aprendendo as coisas da vida, sozinho, sem a sua cumplicidade.
Com você por perto, desde o começo, nem sei que pessoa eu seria hoje.
Tenho certeza, porém, que seria melhor do que sou.
Teria aprendido mais cedo.
Saberia bem mais das mulheres.
Queria também que você soubesse que nunca quis ser gêmeo de ninguém, nem de você.
Sempre gostei da minha independência, do meu livre arbítrio, não queria ninguém, tão igual a mim sofrendo ou me cobrando, por causa de cada coisa diferente que eu fizesse ou pensasse em fazer.
Mas, uma irmã querida, eu queria, bem que eu queria.
E quer saber porque justo hoje resolvi me comunicar com você?
Por causa do Ricardo que ainda quer conversar com o pai, por causa da novidade do Bruno e da Joana e por causa do filme que acabo de ver.
O filme é sobre uma irmã gêmea que vai viajar e na volta não encontra mais o irmão. Na ausência dela, ele havia brigado com os pais e tinha partido.
Ela quase morre, com a ausência dele.
Ela não suporta a ausência dele.
Por causa do filme, lembrei de você e do nosso pai, de quem eu também sinto muita falta.
Com ele eu pude conversar muito. Ele era maravilhoso e cheio de defeitos.
Se você já esteve com ele ou tem tido oportunidade de estar com ele, dê-lhe um abraço muito apertado e um beijo muito carinhoso.
Diga-lhe que continuo cheio de defeitos também.
Diga-lhe que agora escrevo num blog e que gosto muito.
Diga-lhe que continuo amando a Bia e que estamos numa fase ótima.
Que os netos dele, seus sobrinhos Bruno, Juliana e Bárbara, já cresceram e eu continuo a adorá-los.
Que tenho 2 enteados, a Olívia e o Caio. A Olívia ainda não me beija, mas eu digo que sou o pai dela de Ipanema.
E não esqueça de também dizer-lhe que eu e Bia vamos ser avós e ele bisavô, soubemos hoje.
Quanto a nós, irmãos tão distantes, talvez possamos fazer alguma coisa a respeito disso.
E eu ainda longe de você, lembrando de você, vou tentar conversar muito mais com todos os meus amigos de fé, meus irmãos, camaradas.
Não tenha ciúmes, provavelmente me aproximo deles por causa da falta que você me faz.

Beijos carinhosos.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

As lições

Meu pai sempre me ensinou a aproveitar as intempéries da vida para tirar lições...Me lembro de que ele sempre me perguntava no início da minha caminhada escolar o que eu tinha errado nas provas, mesmo com as notas boas que eu tirava ( sim, fui CDF ...) , para que eu descobrisse o porquê do erro, para entender o problema e não errar mais...

Meu pai sempre me ensinou a ouvir o outro lado. Quando entrei na faculdade, ficou preocupado com o poder do "ouro de Moscou" e com os " estudantes profissionais" que poderiam levar as minhas boas intenções e os meus sonhos de mudar o mundo para o lado errado. Ou melhor, lado que ele, militar, considerava errado... E aí sempre me dava para ler artigos, textos, críticas, visões diferentes para eu entender o que pensavam as pessoas que não faziam parte da minha turma de autores, colunistas e escritores preferidos...E ele sabia que também era uma forma de aumentar a minha capacidade de pensar e de defender as minhas idéias...

Meu pai sempre me apoiou depois de algumas derrotas na minha carreira profissional. Sempre procurou me ouvir, discutir as minhas razões, questionar as posturas adversas, sempre no sentido de que eu , pelo menos, aprendesse alguma coisa com aquilo tudo que estava acontecendo. E com as palavras certas e gestos de carinho, sempre dava um jeito de levantar a minha cabeça para seguir em frente e dar a volta por cima...

E agora, quando não pode falar mais, meu pai tem me mostrado que há alguma coisa para aprender, mesmo que seja de uma forma muito dolorosa... E uma dessas lições que tenho tirado é a de não repetir um erro da nossa relação. Meu pai sempre ouviu muito da minha vida mas falou pouco da dele. Quantas questões ele errou nas provas e não debateu comigo ? Quantas vezes ele precisou ouvir opiniões diferentes para mudar de idéia e viver melhor ? E quantas vezes ele necessitou de um gesto bacana para seguir em frente e eu não percebi? Não sei a resposta. Sei que também errei. Mas o recado eu já entendi. Para o meu pai, talvez já seja tarde...mas para o meu filho, para a minha quase filha, para a minha mulher e para os meus amigos, ainda há tempo.

Ricardo

Simonal

Sábado fui ver o filme do Simonal. Adorei. O cara vacilou numa época que não podia vacilar. Mas foi uma pena. Ele era o máximo!
Essa música é linda demais...

Tributo a Martin Luther King
(Wilson Simonal e Nonato Buzar)


Sim, sou um negro de cor
Meu irmão de minha cor
O que te peço é luta sim
Luta mais!
Que a luta está no fim...
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá! Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Oh! Oh! Oh! Oh!

Cada negro que for
Mais um negro virá
Para lutar
Com sangue ou não
Com uma canção
Também se luta irmão
Ouvir minha voz
Oh Yes!
Lutar por nós...

Luta negra demais
É lutar pela paz
Luta negra demais
Para sermos iguais
Lá Lá Lá! Ah! Ah! Ah! Ah!

Sim, sou um negro de cor
Meu irmão de minha cor
O que te peço é luta sim
Luta mais!
Que a luta está no fim...
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá! Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Oh! Oh! Oh! Oh!

Cada negro que for
Mais um negro virá
Para lutar
Com sangue ou não
Com uma canção
Também se luta irmão
Ouvir minha voz
Oh Yes!
Lutar por nós...

Luta negra demais
É lutar pela paz
Luta negra demais
Para sermos iguais
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Para sermos iguais
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá

Beijos
Bia