Preparou tudo cuidadosamente.
Não era o plano de voo mais importante da vida
mas era o definitivo.
Era preciso checar cada detalhe.
Conferir os mapas, traçar a rota,
E o principal:
Indicar os próximos passos para quem ia ficar.
Como um comandante centralizador, fez tudo sozinho.
Poderia ter dividido.
Quem sabe com um co-piloto ?
Mas talvez, pelos descaminhos do dia a dia , pelas teimosias do coração,
tenham faltado co-pilotos ao seu lado e se acostumou a tomar decisões, só e pra si...
Talvez tenha sido assim quando voava pelo Correio Aéreo e pousava em lugares
perigosos, pistas de terra no meio da floresta, nas missões de salvamento e ajuda de que tanto se orgulhava.
Não dá pra saber agora.
O plano de voo foi feito para ser cumprido.
E ele decolou...
Com certeza, não imaginava tanta turbulência.
O velho avião, já estava marcado pelos ventos do tempo,
e ele sabia que não ia ser fácil...
Mas por que tanta nuvem, tantos raios, tanto mau tempo naquela viagem ?
Quem tem a resposta ?
Aos poucos, o radio não recebia mais mensagens
por mais que a torre tentasse falar,
tentasse orientar,
tentasse confortar...
Não havia resposta.
O silêncio das alturas começou a se estabelecer...
Mas aquele ponto de luz ainda brilhava no radar.
Todos sabiam que o motor era guerreiro,
não falhava...
Mesmo que as asas trepidassem,
mesmo que o leme não atendesse mais aos comandos...
o motor teimava em roncar.
Foi sempre um motor forte acostumado a tempestades
que soube conduzir sonhos,
rasgar caminhos,
levar a vida
e transportar vidas pelo céu azul...
Naquele momento, o plano de voo não estava saindo como o previsto.
Mas um bom comandante está sempre preparado
para as interferências do destino.
E ele seguiu...
Aos poucos,
a luz foi sumindo no radar,
na esperança dos olhos de quem estava com os pés na terra
e carregava uma história de convívio, amizade, respeito, carinho e amor no coração.
De repente, a luz se apagou...
O velho avião riscara os limites da existência...
Mas os planos do último voo ficaram
e foram seguidos,
marcados pela saudade, pelas dúvidas de decisões que não foram tomadas,
pelas últimas palavras que não foram faladas......
A história terminaria aqui mas um radio-amador,
numa ilha imaginária entre o Atlântico e o Pacífico,
captou mensagens que pareciam perdidas nas nuvens.
Uma delas falava do orgulho de um velho comandante pelas conquistas da vida...
Outra dizia a respeito a uma das ultimas visões que ele teve da pista:
o comandante não imaginava
que ela estaria tão cheia de amigos, sentimentos e carinho em volta do seu filho...
E partiu mais feliz...
E por último, o radio-amador captou diálogos vindo de algum ponto do paraíso
entre os rádios dos aviões dos coronéis Gomes, Braga e Carvalho.
Felizes, davam boas-vindas ao mais novo membro da esquadrilha do céu:
o coronel Celio Pereira.
Beijo, pai.