sexta-feira, 13 de março de 2009

Dia Nacional da Poesia

Essa é a primeira vez que me animo a escrever aqui no Bonde, embora esteja sempre atenta às postagens. Amo essa atividade toda, mas me mantenho quieta no meu canto só curtindo. Acontece que recebo aqui no meu trabalho de um colega poeta um presente maravilhoso que quero compartilhar com vocês. Ele manda todos os dias poesias que chegam por e-mail e são como janelas em meio a mesmice cotidiana. Pois hoje, ele acaba de nos lembrar que amanhã é o dia nacional da poesia e mandou poesia pra comemorar, pra homenagear e pra lembrar que sem ela muita gente não vive. Eu não vivo. E acho que o Bonde também não.
Então, moçada, poesia pras nossas vidas!
Ah! O último poema é desse amigo poeta. Espero que curtam.
Lucia

SIMULTANEIDADE
Mário Quintana
- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!- Você é louco?- Não, sou poeta.

POÉTICA
Cassiano Ricardo

I
Que é a poesia?
Uma ilha
cercada
de palavras
por todos
os lados

II
Que é o Poeta?
um homem
que trabalha o poema
com o suor do seu rosto.
Um homem
que tem fome
como qualquer outro
homem

ISTO
Fernando Pessoa

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é,
Sentir, sinta quem lê !

RAZÃO DE SER
Paulo Leminski

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

TERRENO BALDIO
Henrique Rodrigues

“- o que eu vejo é o beco.”
Manuel Bandeira

No escuro inabitado onde eu vivia
Ecoava o seu silêncio. E era tanto
O céu vazio sobre o meu espanto
Que, feito um espelho opaco, refletia

A noite, se era noite e se era dia.
Mas, mesmo aprisionada nesse manto,
Você se revelava em cada canto,
E às vezes num relâmpago eu te via.

Morava sobre escombro bem antigo,
Por isso a sua presença era tão rasa
No teto, nas paredes. Mas consigo

Fazer do meu poema a nova casa
Montada num terreno que esvazio.
Pois ele – e nunca eu – é que é baldio.

8 comentários:

Anônimo disse...

Oba!!! Ela começou!!! Espero que não pare mais... :)
Que bom que vc tem esse amigo. Que bom que nós temos vc. Assim, ficamos cheios de poesia.
Ô coisa boa pra nos encher!
Mil beijos

Letícia disse...

Nossa, só poesias lindas!

Anônimo disse...

Depois da praia,da força da amizade, da expansão dos sentimentos, das piadas provocantes, das festas enebriantes, das alegrias divididas, da força pra quem precisa, dos jogos do Flamengo (e dos outros também...), do carinho entre todos , das descobertas, dos encontros e desencontros, dos debates fumegantes,dos cinemas ingresso ponto com, só faltava a poesia ...
Não falta mais...
Valeu, Lucia !!!!!!

beijo

Ricardo

Anônimo disse...

Obrigada pelos comentários entusiasmados, queridos! Podem deixar comigo. A partir de agora assumo o posto da divulgadora da poesia que rola solta pelo mundo. Me encarrego de segurá-la aqui no Bonde.
beijos
Lucia

Lady Shady disse...

Muito legal!!!!
bjs

Anônimo disse...

Essas citações,
As escolhas,o tema,
Tem a ver,
Com outro poema.

"Me vejo no que vejo,
...
e olha o que eu olho,
é minha criação isso que vejo perceber é conceber..."
(de Octavio Paz)

Marisa Monte musicou e eu arremato,
Nesse blog coletivo, nossa visão multifacetada, vai fazendo seu caleidoscópio colorido.
Valeu Lucia!

Anônimo disse...

Lucia, querida

desculpa o atraso. Só quero registrar que amei, amei, amei!!!!!

Beijos.

bastaestarvivo disse...

gostei muito.
ah, sim, me fez lembrar:

O Lutador (carlos drummond de andrade)
Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria
poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida.
Deixam-se enlaçar,
tontas à carícia
e súbito fogem
e não há ameaça
e nem há sevícia
que as traga de novo
ao centro da praça.

Insisto, solerte.
Busco persuadi-las.
Ser-lhes-ei escravo
de rara humildade.
Guardarei sigilo
de nosso comércio.
Na voz, nenhum travo
de zanga ou desgosto.
Sem me ouvir deslizam,
perpassam levíssimas
(...)
belíssimo.