segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO, BRASIL E O RIO DE JANEIRO

Cinema é a melhor diversão.
Ir ao cinema é um programa legal.
Ir ao cinema com amigos e depois sair por aí, falando sobre o filme, muitas vezes não tem preço.
No sábado de Carnaval, na cidade do Rio de Janeiro, foi o que fizemos. Três casais, seis amigos que podiam estar ainda cantando em algum bloco, foram assistir “Slum dog millionaire”.
O filme é muito bom, tem um som maravilhoso e valeu a pena ir ao Shopping Leblon, que eu detesto, mas que tem cinemas ótimos com um puta som, THX.
O ator principal está maravilhoso e há muitas leituras para o filme, sem dúvida.
Saímos andando, falando das nossas observações:
... tá na cara que Fernando Meireles inspirou o diretor!
... não! Parece que ele não viu Cidade de Deus!
... que som maravilhoso!
... o filme é muito barra pesada, mas é lindo!
... gente, as músicas são lindas!
... o que foi aquela cena ....

Decidimos ir à Academia da Cachaça, mas como estávamos no Rio de Janeiro à noite, escolhemos o caminho mais longo e mais seguro, via Ataulfo (de Paiva).
Onze da noite, grupos de foliões semi fantasiados, na maioria compostos por jovens, caminhava em direção à Ipanema e nós, no sentido contrário, em direção ao coração do Leblon.
Cruzamos a Afrânio.
O trânsito inexistente, provavelmente interrompido por algum bloco que ainda não víamos, deixava a rua silenciosa. Um estranho silencio para uma noite de Carnaval, na Ataulfo de Paiva.
Na esquina, uma vendedora de cerveja com seu isopor e uma amiga, colocava uma menina, que tinha a idade da protagonista do filme, para dormir num estrado de papelão sobre o banco ainda em bom estado, sobrevivente do RIO CIDADE.
Desviamos o olhar. Ainda assim esbarramos com mais gente dormindo ou se preparando para dormir na calçada em camas de papelão.
Eles eram muito silenciosos.
Eles costumam ser muito silenciosos diante da nossa opulência social, quando estão dormindo em nossas calçadas ou revirando nosso lixo.
Saímos de Bombaim, cidade do filme, India, e silenciosamente mergulhamos na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.

A partir daí ficamos, repentinamente, a sós com os nossos pensamentos, com as desigualdades que sabemos existir, com as experiências pessoais de cada um de nós.

Estamos no Terceiro Mundo. Somos BRIC’s, a Índia também é e caminhávamos ...
Resolvemos mudar de endereço e seguimos para o SAMOA da Cupertino, um “japa-carioca”.

Nesse último trecho de caminhada, muita luz, muita gente sorrindo se alimentando na loja de sucos da esquina, muita gente feliz sentada em mesas na calçada.

Chegamos ao SAMOA. Procuramos uma mesa para 6, onde pudéssemos fumar e que fosse agradável. A solução seria mudar o lay out das mesas.

O bonde quando sai é assim meio “tribalista na irreverência”, “pé em deus e fé na taba”. Normalmente, barulhentos nessa irreverência layoutiana, mas o filme e os silenciosos desabrigados do caminho ainda estavam entre nós e, compreensivelmente eu acho, não estávamos barulhentos como de costume.

Nisso, um casal jovem que estava jantando, se ofereceu a mudar de mesa para que pudéssemos nos acomodar. E nós nem tínhamos pensado nessa hipótese.

Ficamos encantados e quase desconcertados com a gentileza.

Após o filme, após a realidade nua e crua que evitamos encontrar, mas que está presente no mundo e entre nós, recebemos um presente de um casal que não fazia idéia de nossas aflições.

Eles nos trouxeram de volta ao Rio de Janeiro que amamos, de gentileza, de simpatia, de alto astral.

O jantar estava ótimo, brincamos com tudo e nos despedimos com um estado de espírito bem melhor.

Encontrar gente legal no Rio de Janeiro, também não tem preço

P.S.: Escrevo isso após a vitória do filme no OSCAR.
Eu e Bia fomos dormir tarde e vimos a cerimônia do OSCAR até o fim.
Foi bonita a festa, pá!
Fiquei tão animado que fui pesquisar sobre o diretor, sobre outros filmes dele e li muitos comentários sobre o filme ganhador.
Tenho algumas convicções sobre estrangeiros do primeiro mundo descrevendo a realidade dos outros mas... estava gostando do que tinha lido.
Nisso volto à internet e leio mais notícias sobre o OSCAR.
A beleza da cerimônia, a foto do grupo com um dos atores adultos com as mãos nos ombros de um dos atores mirins aparecerá em todos os jornais e revistas do mundo ...
Mas tem mais e é instigante...
Antes que leiam aqui vai um viva a Fernando Meireles!
Saravá!



http://ego.globo.com/Gente/Noticias/0,,MUL1010578-9798,00-APESAR+DE+FATURAR+U+MI+ATORESMIRINS+DE+SLUMGOD+MILLIONAIRE+AINDA+VIVEM+NA+P.html

4 comentários:

Anônimo disse...

Sá,
o filme é maravilhoso! Fico orgulhosa de perceber o quanto de Cidade de Deus tem ali...
Fiquei feliz tb com o resultado do Oscar.
A gentileza do casal no Samoa foi o máximo. A atitude deles deveria ser o padrão, mas se tornou exceção. Mas é reconfortante perceber que ainda existem pessoas assim. E tão jovens...
Hoje já é terça e os últimos dias foram lotados de programas maravilhosos com os amigos, filmes lindos e conversas deliciosas.
Agora, ler seu texto, conviver com você e aproveitar todas as coisas lindas que vc tem... isso sim, não tem preço!
Beijos
Bia

Anônimo disse...

Sá...

Adorei o seu texto. Fiquei feliz de fazer parte dele mesmo tendo dado a informação errada ( sim, o diretor de "quem quer ser..." viu Cidade de Deus antes de filmar..). A sua sensibilidade me emociona.
É muito legal ser seu amigo.

abs

Ricardo

Letícia disse...

Sá, econtrar gente legal realmente não tem preço! Encontrar o bonde na praia é uma das melhores coisas da vida!
Beijos

Anônimo disse...

Sá,

que belo texto! As conversas do nosso grupo, o filme emocionante e a gentileza do jovem casal fizeram dessa noite mais uma memorável do nosso bonde!

Beijos.