terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A MENINA DA DECLARAÇÃO

Chovia. Estávamos todos juntos debaixo de uma marquise na rua Barão da Torre. A rua foi a ligação entre as duas turmas. Uma, formada por meninos e meninas que moravam na vila 100 ou próximo a ela. A outra, numa quadra logo depois, seguindo o fluxo da rua, onde eu passei a minha infância na casa da minha avó e vivia os primeiros anos da adolescência. A nossa turma era mais de meninos que durante muito tempo jogaram bola juntos, descobriram o prazer e os mistérios de uma mesa de botão, ouviram as primeiras canções do Beatles e começavam a sonhar com os encantos do sexo oposto... Adolescentes, alegres e esperançosos... Agora juntos numa única turma.

E estávamos todos ali, juntos, sentados num degrauzinho, esperando a chuva passar... Foi quando ela me chamou a atenção pela primeira vez. De joelhos, na frente do namorado, ela começou a fazer uma linda declaração de amor. Os dois formavam o casal que estava junto há mais tempo naquela época. Ela, com seus cabelos que escorriam lisos mas formavam cachos no final, dizia que amava e que queria ficar pra sempre com ele... Eu não era amigo dos dois. Não acompanhava o relacionamento de perto mas fiquei fascinado pelo belo momento romântico que estava vendo. Era a primeira declaração de amor, como aquelas do cinema, que via ao vivo, bem de pertinho... E, enquanto ouvia, ficava pensando se em algum dia eu teria um momento parecido na minha vida...

Infelizmente não tive a chance de desenvolver uma grande amizade com a menina da declaração.. Tivemos apenas aquela relação de turma, de encontros ao longo do tempo em festas e reuniões. Soube que ela se casou, não com aquele primeiro namorado. Teve dois filhos, descasou e novamente se casou. Enfrentou com muita coragem algumas dificuldades na vida. Sempre com muita energia, aliás, uma energia positiva que sempre iluminava os nossos encontros...

Nunca comentei a cena da marquise com ninguém ... Nem com ela. Uma pena. Acho que ela ia gostar de saber da história. Sei que ela sabia por uma amiga em comum que eu havia encontrado alguém que me faz viver momentos tão românticos como aquele... Uma cena que ficou pra sempre na minha memória da adolescência e domingo, como um velho filme clássico, passou de novo na minha tela, depois da notícia de que ela, a menina da declaração, perdeu a última batalha e partiu deixando saudade no coração da nossa turma da Barão...

Um beijo, Aninha.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ricardo, com certeza ela agora sabe, através desse texto maravilhoso, que aquela declaração te ajudou a buscar e a encontrar alguém que te fizesse amar e se declarar cotidianamente como ela te ensinou.
Fica bem.
Beijos